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REDAÇÃO – Criatividade & Objetividade
Eu odiava o Português

Professor Gerson JorgeE não era o Seu Manuel da padaria. Até os dezoito anos de idade jamais tinha produzido algum texto, além dos obrigatórios em sala de aula. E estes recebiam uma sofrida nota quatro ou cinco, e me faziam suar frio ou pedir ajuda.

Prestes a completar dezoito anos, decidi que iria trabalhar e me meti num curso preparatório para concursos. A partir daí minha vida tomou novo rumo, não porque passei no concurso e tive meu primeiro emprego por longos quatro anos, mas porque conheci um professor, Paulo de Tarso, que me fez conhecer (ou reconhecer) a Língua que já convivia comigo desde pequeno sem que houvesse qualquer intimidade entre nós.

É isso. Descobri que escrever é muito mais do que decorar regras, é ter uma adorável intimidade com as palavras, e conversar com elas, desabafar, dizer e desdizer, sem medo nem culpa.

Larguei as Ciências Exatas e fui parar exatamente na Faculdade de Jornalismo da UFRJ. Fiz estágio em jornais como repórter e me decepcionei. Comecei tudo novamente. Como já gostava muito de escrever (me meti em festivais de música, concursos de poesia, tive músicas gravadas) fiz vestibular novamente. Quatro anos mais tarde me formava pela Faculdade de Letras, também na UFRJ.

Porém, como num passe de mágica, ou peripécia do destino, no primeiro mês da Faculdade de Letras fui convidado pela minha professora de Português a substituir um professor, durante as férias, no colégio onde trabalhava. E lá fui eu, com a cara e a coragem, sem experiência mas com uma vontade danada de acertar. De uma coisa eu tinha certeza: não poderia fazer com que meus alunos passassem pelo mesmo sofrimento que eu havia passado nos tempos de escola.

Um tratamento diferente lhes seria dado – prometi a mim mesmo. Só havia um jeito, encarar a Língua Portuguesa de uma forma diferente. Nada de decorebas. Não que não houvesse regras, mas o texto tinha de ser mais importante que elas. Antes de usar grafia e concordância corretas, era preciso usar o coração. Perder o medo do papel, se entregar a ele, com calma e alegremente. Escrever pode ser um prazer... Eu já sabia.

Criado o ambiente, estabelecida a paz entre canetas e papéis, a Gramática surgia naturalmente. As regras eram compreendidas e apreendidas pela discussão do texto; não pela exaustiva repetição (ou tortura), até que a mente confessasse: decorei.

Alguns anos, anos 70, muitas escolas, muitos alunos... Muito gratificante. Quantas revelações, quanta criatividade, quantas descobertas, quantos “escritores” surgiram.  Porém, uma grande mudança aconteceria mais uma vez no meu caminho.

Por motivos que (pra encurtar a história) não cabem aqui, abandonei o magistério em 1975. Ano em que entrei para a Eletrobras Furnas como Programador de Computador, me tornando depois Analista de Sistemas. Mas o magistério não me abandonou. Nos meus 23 anos de Empresa, acabei dividindo os sistemas com a sala de aula, como professor de Informática.

1997. Aposentadoria? Eu pensei que seria. Após oito meses de descanso merecido, a história recomeçava. Trouxe para a idade adulta e para as empresas o meu jeito de lidar com o ensino. Surgiu o curso Redação: Criatividade & Objetividade, fruto do método que eu empregara nos colégios.

2010. Mais de 140 turmas, mais de 1200 alunos. Muito gratificante. Quantas revelações, quanta criatividade, quantas descobertas, quantos “escritores” continuam surgindo.

Até que surgiu o livro, resultado de muitos anos de respeito aos alunos e à Língua Portuguesa. Durante o curso (dois meses) os alunos produziam (e produzem) 10 redações, todas lidas e discutidas em sala. A partir de 2000, introduzi um tipo de redação que se tornou a estrela do espetáculo. Tem um brilho especial... Não pertence a nenhum aluno, mas ao grupo.

Com o surgimento dos primeiros trabalhos, com a emoção que eles produziam, não foi difícil ter a idéia de um dia juntar tudo e produzir um livro. Pois é, em novembro de 2000, como um letreiro de luz neon, surgia um nome à frente dos meus olhos: Com quantas mãos se faz um poema?

Já tinha a idéia, tinha o nome. Hoje temos o livro. São textos feitos em sala de aula, numa duração de 40 a 60 minutos, por grupos de 6 a 10 alunos. Como acontecia? Simplesmente pegava uma folha em branco e, aleatoriamente, escolhia um aluno para começar. A tarefa era: fazer um poema coletivo. Não havia limite para linhas ou imaginação. Cada um dava a sua contribuição. Na maioria das vezes eu participava também, finalizando. Depois, digitava e dava a forma de poema, sem trocar coisa alguma. A obra tinha de manter-se o espelho de um momento mágico em sala.

Na última aula entregava aos alunos. Agora eles estão aí, 80 poemas com seus 479 poetas. Talvez o olhar crítico tente conceituar, avaliar, julgar, comparar ou analisar... Talvez chegue a conclusões ou definições (poéticas ou não) boas ou ruins sobre cada obra. Talvez a mente, em seu julgamento, chegue a dizer não; mas, com certeza, o coração não julgará. O coração está aí simplesmente para sentir.

Em cada poema do livro há palavras de todos eles. Porém, por tudo que vivenciei, posso afirmar sem medo algum: também e principalmente, há no livro o coração de cada um.

Gerson Jorge

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